J. C. Vilhena Mesquita
Insistentemente me têm perguntado porque não prossigo a Algarviana, cuja publicação iniciei em 1982. E a resposta é simples, essa decisão não depende de mim.
Causam, de facto, estranheza as razões que justificam tão dilatado hiato no tempo, ou seja, uma interrupção de um quarto de século. É claro que diversos e numerosos são os exemplos de obras que, tendo ficado inconclusas, aguardaram durante anos a sua prossecução, na expectativa de verem surgir quem tivesse a coragem e o talento necessários para, metendo ombros à tarefa, serem capazes de as levar por diante e com sucesso. De entre os exemplos que poderíamos para aqui carrear atente-se no que se passou com a História de Portugal, de Pinheiro Chagas, continuada por Barbosa Colen e concluída por Marques Gomes. Melhor exemplo ainda é o do Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, continuado por Brito Aranha e concluído por Martinho da Fonseca.
Mas também existem casos que contradizem os anteriores, isto é que não chegaram a ser concluídos, como por exemplo o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa, dirigido por João José Cochofel, ou ainda o Dicionário de História da Igreja em Portugal, iniciado por António Banha de Andrade e continuado por Fernando Jasmins Pereira. Exemplos como estes (que não são tão raros como se pensa) deixam sempre uma certa nostalgia por se tratar de oportunidades perdidas, quase sempre em obras modelares e fundamentais, que se tornaram com o decorrer dos anos em situações irrecuperáveis.
Não é esse, porém o caso nem a situação da Algarviana – Subsídios para uma Bibliografia do Algarve e dos Autores Algarvios, à qual me encontro ligado, praticamente desde que finquei âncora e estabeleci amarras neste belo jardim de trinta léguas. Muitos amigos e cidadãos ligados à cultura algarvia, que conheceram o início do processo, encetado em 1980, costumam interrogar-me sobre as razões de originaram a interrupção dos trabalhos conducentes à publicação da obra. Confesso que tenho tentado sempre omitir essas razões junto do público, por achar que as mesmas poderiam conduzir a polémicas desnecessárias e a entravar ainda mais a continuidade da obra. Em todo o caso, tanto o Dr. Mário Lyster Franco, enquanto foi vivo, como eu próprio, sempre tentamos impedir que a obra fosse entravada, nada podendo fazer contra a forma vil e traiçoeira como foi perpetrada. Inclusivamente cheguei a responsabilizar publicamente esse indivíduo da morte do Dr. Mário Lyster Franco, que não resistindo ao desgosto de ver a sua obra impedida de ser editada acabaria por ser acometido de vários achaques, de que resultaram a cegueira, irregularidades cardíacas, afasia e desinteresse pela vida. Daí até à morte foi um curto passo.
Quando, no já distante início da década de oitenta, trabalhei na actualização da Algarviana não existiam, como agora felizmente existem, as condições técnicas para produzir com satisfatória qualidade aquela que considero como a obra modelar da cultura algarvia. Não é pois impossível prosseguir com a sua edição. O que é difícil, isso sim, é colocar em consonância todas as entidades que directa ou indirectamente possam, ou devam, estar envolvidas. E, nesse caso, incluo desde logo a Câmara Municipal de Faro como responsável pelo financiamento da edição; os herdeiros do Dr. Mário Lyster Franco pela cedência dos direitos autorais; o IPLB – Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, pelo co-financiamento da investigação e actualização da obra; a RTA – Região de Turismo do Algarve, como possuidora do espólio literário pela cedência de todo o material tendente à prossecução da obra; a Universidade do Algarve pela sua primacial ligação a este processo através da minha pessoa; e, por fim, à minha disponibilidade para assegurar a continuidade da obra.
É claro que tudo isto se pode sintetizar e concentrar numa única instituição: a Câmara Municipal de Faro. Provavelmente até será mais prudente resumir poderes e responsabilidades do que dispersar e decompor decisões. Muita gente envolvida pode desbaratar e confundir o bom andamento do processo. Porém a concatenação das entidades oficiais, locais ou regionais, poderá aligeirar os custos de produção. Nessa ordem de ideias, talvez não fosse descurável a participação da instituição mecenática, atraindo ao processo empresas privadas interessadas em financiar o projecto. Enfim, muitas hipóteses se antepõem no horizonte da suposta boa vontade regionalista.
De qualquer das formas, se a autarquia assim o desejar estou certo que se encontrarão as soluções mais acertadas para a conclusão desta obra injustificadamente interrompida há vinte e cinco anos atrás. Haverá certamente que limar algumas arestas e acertar alguns detalhes. Nada que não se possa ultrapassar, desde que não falte vontade, esforço e empenho da autarquia. Aliás, convém sempre lembrar, que pertence à edilidade farense o direito de primazia na edição da obra, o que afasta as editoras privadas do interesse na continuidade da publicação. Por outro lado, acresce à autarquia a obrigação moral de prosseguir a edição, já que seria uma forma de concluir com letras de ouro as comemorações centenárias do nascimento do Dr. Mário Lyster Franco, que em 2002, passaram praticamente desapercebidas, porque nessa altura a autarquia farense estava nas mãos da ignorância e da obscuridade.
Insistentemente me têm perguntado porque não prossigo a Algarviana, cuja publicação iniciei em 1982. E a resposta é simples, essa decisão não depende de mim.
Causam, de facto, estranheza as razões que justificam tão dilatado hiato no tempo, ou seja, uma interrupção de um quarto de século. É claro que diversos e numerosos são os exemplos de obras que, tendo ficado inconclusas, aguardaram durante anos a sua prossecução, na expectativa de verem surgir quem tivesse a coragem e o talento necessários para, metendo ombros à tarefa, serem capazes de as levar por diante e com sucesso. De entre os exemplos que poderíamos para aqui carrear atente-se no que se passou com a História de Portugal, de Pinheiro Chagas, continuada por Barbosa Colen e concluída por Marques Gomes. Melhor exemplo ainda é o do Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, continuado por Brito Aranha e concluído por Martinho da Fonseca.
Mas também existem casos que contradizem os anteriores, isto é que não chegaram a ser concluídos, como por exemplo o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa, dirigido por João José Cochofel, ou ainda o Dicionário de História da Igreja em Portugal, iniciado por António Banha de Andrade e continuado por Fernando Jasmins Pereira. Exemplos como estes (que não são tão raros como se pensa) deixam sempre uma certa nostalgia por se tratar de oportunidades perdidas, quase sempre em obras modelares e fundamentais, que se tornaram com o decorrer dos anos em situações irrecuperáveis.
Não é esse, porém o caso nem a situação da Algarviana – Subsídios para uma Bibliografia do Algarve e dos Autores Algarvios, à qual me encontro ligado, praticamente desde que finquei âncora e estabeleci amarras neste belo jardim de trinta léguas. Muitos amigos e cidadãos ligados à cultura algarvia, que conheceram o início do processo, encetado em 1980, costumam interrogar-me sobre as razões de originaram a interrupção dos trabalhos conducentes à publicação da obra. Confesso que tenho tentado sempre omitir essas razões junto do público, por achar que as mesmas poderiam conduzir a polémicas desnecessárias e a entravar ainda mais a continuidade da obra. Em todo o caso, tanto o Dr. Mário Lyster Franco, enquanto foi vivo, como eu próprio, sempre tentamos impedir que a obra fosse entravada, nada podendo fazer contra a forma vil e traiçoeira como foi perpetrada. Inclusivamente cheguei a responsabilizar publicamente esse indivíduo da morte do Dr. Mário Lyster Franco, que não resistindo ao desgosto de ver a sua obra impedida de ser editada acabaria por ser acometido de vários achaques, de que resultaram a cegueira, irregularidades cardíacas, afasia e desinteresse pela vida. Daí até à morte foi um curto passo.
Quando, no já distante início da década de oitenta, trabalhei na actualização da Algarviana não existiam, como agora felizmente existem, as condições técnicas para produzir com satisfatória qualidade aquela que considero como a obra modelar da cultura algarvia. Não é pois impossível prosseguir com a sua edição. O que é difícil, isso sim, é colocar em consonância todas as entidades que directa ou indirectamente possam, ou devam, estar envolvidas. E, nesse caso, incluo desde logo a Câmara Municipal de Faro como responsável pelo financiamento da edição; os herdeiros do Dr. Mário Lyster Franco pela cedência dos direitos autorais; o IPLB – Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, pelo co-financiamento da investigação e actualização da obra; a RTA – Região de Turismo do Algarve, como possuidora do espólio literário pela cedência de todo o material tendente à prossecução da obra; a Universidade do Algarve pela sua primacial ligação a este processo através da minha pessoa; e, por fim, à minha disponibilidade para assegurar a continuidade da obra.
É claro que tudo isto se pode sintetizar e concentrar numa única instituição: a Câmara Municipal de Faro. Provavelmente até será mais prudente resumir poderes e responsabilidades do que dispersar e decompor decisões. Muita gente envolvida pode desbaratar e confundir o bom andamento do processo. Porém a concatenação das entidades oficiais, locais ou regionais, poderá aligeirar os custos de produção. Nessa ordem de ideias, talvez não fosse descurável a participação da instituição mecenática, atraindo ao processo empresas privadas interessadas em financiar o projecto. Enfim, muitas hipóteses se antepõem no horizonte da suposta boa vontade regionalista.
De qualquer das formas, se a autarquia assim o desejar estou certo que se encontrarão as soluções mais acertadas para a conclusão desta obra injustificadamente interrompida há vinte e cinco anos atrás. Haverá certamente que limar algumas arestas e acertar alguns detalhes. Nada que não se possa ultrapassar, desde que não falte vontade, esforço e empenho da autarquia. Aliás, convém sempre lembrar, que pertence à edilidade farense o direito de primazia na edição da obra, o que afasta as editoras privadas do interesse na continuidade da publicação. Por outro lado, acresce à autarquia a obrigação moral de prosseguir a edição, já que seria uma forma de concluir com letras de ouro as comemorações centenárias do nascimento do Dr. Mário Lyster Franco, que em 2002, passaram praticamente desapercebidas, porque nessa altura a autarquia farense estava nas mãos da ignorância e da obscuridade.
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