quinta-feira, 9 de maio de 2013

Salazar e Duarte Pacheco não ouviam a mesma música - um episódio quase anedótico das suas relações políticas

A figura tutelar e fundacional do «Estado Novo» foi incontestavelmente Oliveira Salazar, reputado professor da Universidade de Coimbra e consagrado estadista, que dirigiu os destinos de Portugal durante quase meio século. O sistema político assentava numa ditadura, herdada dos militares, que Salazar moldou à imagem do fascismo italiano, mas numa versão mais suave, de forte pendor clerical, anti-partidária e antidemocrática. O facto de ter evitado a entrada de Portugal na II Guerra Mundial e de ter mantido sempre intacto o vasto império colonial, granjeou-lhe um forte prestígio político, não só no seio da nação como ainda na consideração das maiores potencias mundiais, que durante o período da «Guerra Fria» preferiram manter o ditador sob protetora vigilância, com receio duma escalada bolchevista na Europa mediterrânica. A imagem de político honesto e íntegro, austero e incorruptível, aureolou Salazar com o epíteto de salvador da pátria, cuja dedicação governativa era apreciada como um sacrifício em prol da defesa e integridade da nação portuguesa. 
Mas a figura emblemática do regime corporativo assente na ideia de um «Estado Novo», ordeiro, disciplinado e empreendedor, recaiu no Engº Duarte Pacheco, que, como Ministro das Obras Públicas ou como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, foi o autor e impulsionador de uma política de desenvolvimento dos sectores económicos com base na criação de infraestruturas, na qualificação dos recursos humanos e na potencialização das riquezas naturais de que o país dispunha. Basta dizer que foi o primeiro a perceber que um dos vectores para a modernização do país era precisamente a implementação do turismo internacional, desenvolvendo para isso uma vasta rede hoteleira espalhada pela orla costeira, tendo inclusivamente operado  uma campanha de restauro e adaptação de castelos, fortalezas, conventos, mosteiros e outros edifícios históricos, convertendo-os em estalagens turísticas.
O artigo que aqui se coloca ao dispor do público refere-se a um episódio das relações político-governativas entre Salazar e Duarte Pacheco, que foi sempre muito amistosa e produtiva, tendo por objectivo a modernização do país, o progresso material da nação e a valorização da imagem de Portugal além-fronteiras. Da relação de trabalho entre os dois estadistas resultou um período de modernização e progresso do país, que causou um certo espanto no estrangeiro.
Mas a imagem que transparecia para o país era a de que Salazar não só protegia e admirava o  Engº Duarte Pacheco, seu dinâmico e empreendedor ministro das Obras Públicas, como ainda lhe fazia todas as vontades, custeando integralmente certas obras que de fomento tinham pouco e de benefício para o país eram de duvidosa eficiência, como aconteceu por exemplo com o Estádio Nacional.
Neste artigo recordamos um caso que contraria essa imagem protectora de Salazar e que deixou Duarte Pacheco muito decepcionado pela lição que teve de aprender com o chefe de estado. É que o dinheiro dos contribuintes representa o sacrifício e o suor de quem trabalha, não é para os políticos satisfazerem interesses velados com gastos  avultadíssimos em obras sumptuosos, de duvidosa urgência e necessidade.