sexta-feira, 28 de abril de 2017

Para a História da Saúde no Algarve - As epidemias de cólera-mórbus no século XIX

Consideram-se surtos endémicos as doenças transmitidas por bactérias ou por vírus que deflagram geralmente em determinadas regiões, provocadas por agentes ou condicionalismos locais. Na maioria dos casos as endemias são sazonais e estão relacionadas com factores geográficos, climatéricos, e, por vezes, até genéticos. Consideram-se doenças regionais e não costumam ter efeitos mais devastadores do que aqueles a que as populações já estão habituadas. No Algarve, por exemplo, eram muito comuns as doenças palustres ou tifóides no tempo da curtimenta do esparto e do vime. Confinavam-se aos locais de águas paradas, estagnadas ou pútridas, aos terenos pantanosos, sapais e lameiros da borda-d’água, onde eclodiam mosquitos transmissores de febres e sezões. Quando as endemias se agravam ou propagam, adquirem então o carácter de surtos epidémicos, mas só no caso de a doença ter sido provocada por um vírus ou bactéria que surgiu inesperadamente num local e contagiou rapidamente a generalidade da população. Não são raros os casos em que os surtos epidémicos evoluem de forma incontrolada para situações alarmantes, extravasando fronteiras numa onda de contaminação generalizada. Nesse caso adquirem o foro aterrorizante da epidemia. O conceito de Epidemia nasce da fusão de dois étimos gregos: epi (sobre), e demos (povo), significando algo que se derrama pela população, causando alarme e medo. Traduz, do ponto de vista médico, um inesperado e arrebatante índice de enfermos atacados pela mesma doença num breve lapso de tempo, e sem distinção de sexos, idades, raça ou classe social. Uma epidemia é um contágio rápido e generalizado, que não tem limites de tempo nem de espaço, provocando um número elevado de vítimas.