terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Faleceu o historiador francês Jean Delumeau

Jean Delumeau no seu gabinete de trabalho

Morreu, ontem dia 13 de Janeiro de 2020, o historiador francês Jean Delumeau, um medievalista consagrado que dedicou a maior parte da sua vida ao estudo das religiões, e às relações da Europa com o Oriente. O cristianismo foi o principal tema da sua análise, como historiador, não se poupando a elogios nem a críticas, que por vezes, quando falou da inquisição, foram muito severas.
Jean Delumeau teve um lugar merecidamente preponderante na historiografia francesa, e os seus livros constituem verdadeiros monumentos de erudição, rigor e objectividade no estudo do cristianismo e da cultura ocidental no mundo.

Tinha 96 anos de idade, nasceu a 18 de Junho de 1923, no seio de uma família pequeno-burguesa, em Nantes, onde estudou num colégio religioso da ordem Salesiana, de onde seguiu para a Universidade. Foi um dos mais brilhantes alunos da sua geração. Manteve-se coerente e nunca renunciou às suas convicções.
Era um dos últimos sobreviventes da escola dos «Annales d'histoire économique et sociale», revista fundada pelo imortal Marc Bloch, do qual foram também discípulos Lucien Febvre e Fernand Braudel. À escola dos «Annales» sucedeu nos anos setenta a chamada «Nouvelle Histoire» de Jacques Le Goff e Georges Duby, da qual descem praticamente todos os historiadores da minha geração. Inclusivamente tive alguns professores, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que se repartiam em simpatia, ora por uma ora por outra, dessas escolas. Lembro-me do Prof. Magalhães Godinho dizer que era o principal herdeiro da escola dos «Annales» em Portugal, em compita com o Prof. Borges de Macedo, que foi meu orientador de tese. Como defensores da mesma escola tive o Prof. Barradas de Carvalho, o Borges Coelho e o José Tengarrinha, enquanto o João Medina, que era dos mais brilhantes professores que tive na FLL, já se autorreconhecia como fiel seguidor da «Nouvelle Histoire».
Tenho alguns livros de Delumeau em francês, e em português, um deles bastante antigo, do meu tempo de estudante, sobre a Idade Média, publicado na colecção «Saber», que era uma reposição da francesa com o mesmo nome, que o saudoso Lyon de Castro teve a ousadia de editar no nosso país.
Curvo-me perante a memória desse grande historiador, que está directamente ligado à minha formação científica, cuja perda deixará na historiografia do cristianismo e da cultura ocidental uma marca indelével e uma posição insubstituível.

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