Jean Delumeau no seu gabinete de trabalho |
Morreu, ontem dia 13 de
Janeiro de 2020, o historiador francês Jean Delumeau, um medievalista
consagrado que dedicou a maior parte da sua vida ao estudo das religiões, e às
relações da Europa com o Oriente. O cristianismo foi o principal tema da sua
análise, como historiador, não se poupando a elogios nem a críticas, que por
vezes, quando falou da inquisição, foram muito severas.
Jean Delumeau teve um lugar
merecidamente preponderante na historiografia francesa, e os seus livros
constituem verdadeiros monumentos de erudição, rigor e objectividade no estudo
do cristianismo e da cultura ocidental no mundo.
Tinha 96 anos de idade, nasceu
a 18 de Junho de 1923, no seio de uma família pequeno-burguesa, em Nantes,
onde estudou num colégio religioso da ordem Salesiana, de onde seguiu para a
Universidade. Foi um dos mais brilhantes alunos da sua geração. Manteve-se
coerente e nunca renunciou às suas convicções.
Era um dos últimos sobreviventes
da escola dos «Annales d'histoire économique et sociale», revista fundada pelo
imortal Marc Bloch, do qual foram também discípulos Lucien Febvre e Fernand
Braudel. À escola dos «Annales» sucedeu nos anos setenta a chamada «Nouvelle
Histoire» de Jacques Le Goff e Georges Duby, da qual descem praticamente todos
os historiadores da minha geração. Inclusivamente tive alguns professores, na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que se repartiam em simpatia,
ora por uma ora por outra, dessas escolas. Lembro-me do Prof. Magalhães Godinho
dizer que era o principal herdeiro da escola dos «Annales» em Portugal, em
compita com o Prof. Borges de Macedo, que foi meu orientador de tese. Como
defensores da mesma escola tive o Prof. Barradas de Carvalho, o Borges Coelho e
o José Tengarrinha, enquanto o João Medina, que era dos mais brilhantes
professores que tive na FLL, já se autorreconhecia como fiel seguidor da
«Nouvelle Histoire».Tenho alguns livros de Delumeau em francês, e em português, um deles bastante antigo, do meu tempo de estudante, sobre a Idade Média, publicado na colecção «Saber», que era uma reposição da francesa com o mesmo nome, que o saudoso Lyon de Castro teve a ousadia de editar no nosso país.
Curvo-me perante a memória
desse grande historiador, que está directamente ligado à minha formação
científica, cuja perda deixará na historiografia do cristianismo e da cultura
ocidental uma marca indelével e uma posição insubstituível.
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