Talvez poucos historiadores algarvios saibam deste pormenor. Quando o Conde Schaumburg-Lippe
(1724-1777) fez a notável inspecção, em 1764, ao equipamento defensivo da linha
costeira do Algarve, em cujo inspecção aparece a célebre frase em que
considera o Algarve "hum pedaço do Paraizo Terrestre", aconselhou o
Marquês de Pombal a proceder à reconstrução de vários fortes, fortalezas e
revelins, que asseguravam a defesa militar da costa algarvia. Pelo pormenor,
mas também pela eloquência desse relatório (inspecção), merece uma leitura
atenta por quem estuda o Algarve no séc. XVIII, mas também mereceria uma
publicação, em futura «Monumenta Historica Algarbiensis», uma quimera que
ilustres historiadores, como António Baião [que tinha sangue algarvio] e
Alberto Iria, sustentaram durante anos sem qualquer sucesso. Eu já a li na
«Colecção Pombalina» (contém 756 códices manuscritos) da BNP, e posso dizer que
é uma fonte de primeira grandeza. Curiosamente, tinha anotações talvez de Pedro
de Azevedo, embora desconfie que por lá andou também o escritor Júlio Dantas,
que foi um grande divulgador da nossa história.
Retomando o fio à meada, o Marquês de Pombal ciente dos escassos recursos do
Tesouro Público (actual Ministério das Finanças) mandou arquivar o relatório do
Conde Lippe, para posterior reapreciação. No reinado seguinte, de D. Maria I,
período designado por "Viradeira" visto ser marcado pela política
retrógrada do absolutismo, uma das soluções usadas para evitar o aumento da despesa
pública, por via da restauração dos fortes militares da linha costeira, foi o
encerramento de alguns desses equipamentos militares. Entre eles, figuram os
Fortes de Cacela e de Santo António do Rio, em Tavira, a que o vulgo chamava
Forte do Rato, cuja decadência só viria a ser travada quase dois séculos
depois, para servirem de aquartelamento às forças de vigilância e de inspecção
fiscal.
Forte de Cacela |
Quando o capitão-de-mar-e-guerra Lourenço Germach Possolo passou pela costa
algarvia, no último cartel do século XIX, considerou que a maioria das
fortalezas algarvias, nomeadamente a de Sagres, estavam na triste condição de
"pardieiros". O abandono dos monumentos históricos no nosso país era
endémico, vinha de longa data, e contrastava lamentavelmente com o que ocorria
noutros países, nomeadamente em Itália, onde o espírito romântico da época e o
crescente fervor nacionalista lançara uma onda de recuperação e restauro dos
monumentos e edifícios históricos.
Para os possíveis interessados aqui deixo a referência bibliográfica do edital
publicado em 1794, que pode ser consultado nas bibliotecas da Academia das
Ciências, da Ajuda, da BNP e outras:
Forte de Santo António, vulgo Forte do Rato, em Tavira |
Edital.- "Sua Magestade foi servida ordenar por Aviso do Secretario de
Estado Luiz Pinto de Sousa, de sinco do corrente mez de Março, se faça público,
que os Governos das Fortalezas de Cassella, e Santo Antonio do Rio, da Cidade
de Tavira, Reino do Algarve, se achão extinctos, e abolidos para já mais se
poderem pertender. Lisboa treze de Março de mil setecentos noventa e quatro-
Francisco Xavier Telles de Mello (Lisboa): Na Officina de Antonio Rodrigues
Galhardo, 1794.-1 folha; 29cm.-B.
J.C. Vilhena Mesquita
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