sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Divisão militar do Algarve na primeira metade do século XIX

Mapa da divisão administrativa e militar do Algarve-Alentejo
O Algarve tinha, nos começos do século XIX, nove governadores de praças com 49 fortes e baterias devidamente equipadas com diversas peças de artilharia, assim como a tropa de que se compunham as respectivas guarnições militares. Tudo isto somava algumas centenas de homens. Porém, no tempo do general Beresford a maior parte das defesas costeiras do Algarve foram desmanteladas. Com o decorrer do tempo as circunstâncias de degradação dos equipamentos foi-se agravando, a tal ponto que – segundo o parecer de uma comissão de engenheiros, liderada por José Sande de Vasconcelos, que aqui que aqui veio inspeccioná-las – seria necessário investir 27 contos de réis para voltar a pô-las operacionais. Apesar disso, quando ocorreu a chamada “invasão do Algarve” pelas tropas do Duque da Terceira, as guarnições miguelistas da lista costeira, ainda conseguiram aproveitar alguma artilharia que daqui levaram na debandada para o Alentejo, onde reorganizaram a resistência. Assim que o exército libertador partiu para tomar Lisboa em 24 de Julho de 1833, a tropa do estropiado exército absolutista, agora sob o comando do Remexido, serviu-se dessa artilharia para atacar as cidades de Lagos e Faro, assim como a intrépida vila de Olhão, principais baluartes da causa pedrista no Algarve.
Desembarque de D. Pedro à frente do exército
libertador, na praia da Arnosa de Pampelido

A guarnição militar do Algarve era constituída pelos Regimentos de Infantaria nº 2 e 14, sediados em Lagos e Tavira, respectivamente, e ainda pelo Regimento de Artilharia nº 2, em Faro, com o respectivo Trem, onde se repararam e fundiram várias peças de médio calibre, que foram muito úteis na defesa da cidade contra as investidas das guerrilhas miguelistas, nos anos que se sucederam à Convenção de Évora Monte. Para além destas guarnições, existia também o secular Regimento de Cavalaria de Caçadores 4, sedeado em Castro Marim, e uma Companhia de Veteranos, dispersa pelas principais praças do reino do Algarve, cujo comando estava sedeado em Lagos. Em boa verdade, esta Companhia não passava de uma decrépita e mal equipa milícia territorial, composta por velhos soldados incapazes de assegurar a defesa das vilas e cidades algarvias. Um pouco melhor equipados estavam os Regimentos de Milícias de Lagos e de Tavira, embora também padecessem da falta de homens, de fardamento, de fuzis e cartuchame. O efectivo das Ordenanças no Algarve compunha-se de 14 capitanias-mores, com várias companhias de infantaria e alguma cavalaria. Mas, na realidade, serviam mais para a decoração militar em actos solenes e festivos, do que propriamente para a defesa efectiva do território.
Caricatura da luta pelo trono português entre D. Pedro
e D. Miguel, num desenho de Honoré Daumier, 1833
Por força do decreto de 26-11-1836, foi o Algarve integrado no Distrito Administrativo de Beja, na 8ª Divisão Militar, liderado por um Oficial General, com uma gratificação de 90 mil réis, um Chefe de Estado Maior e um Ajudante de Ordens, suprimindo-se o secretário e os oficiais de secretaria ao efectivo militar.
A partir de então, o Algarve passou a dispor, como guarnição permanente, de dois corpos de Infantaria e apenas um de Artilharia; uma Companhia de Veteranos dispersa pela província, comandada por Lagos, onde, aliás, também se encontrava o quartel de um dos corpos militares, além do de Tavira, e do de Artilharia em Faro, onde se instalou um novo Trem.
Remexido, o guerrilheiro do Algarve
O número de praças militares continuou a ser o mesmo. Os fortes e baterias da costa também não sofreram alteração, ainda que permanecessem abandonados, desequipados e arruinados.
Para a execução da justiça militar havia um auditor da divisão, com 40 mil réis de ordenado e uma forragem para os animais.
Em resumo, era assim que se compunha e organizava a Divisão Militar do Algarve, que desde 1762, quando o Conde de Lippe aqui chegou, não teve uma intervenção na recuperação das suas defesas marítimas, não melhorou o seu equipamento bélico, nem aumentou o efectivo militar. O Algarve, desde o século XVII, quando se preparou para a “guerra da independência”, nada tem feito para defender a sua vasta linha costeira, que permanece, ainda hoje, indefesa para suster um ataque marítimo. Não admira, por isso, que o Algarve tivesse sido escolhido pelas tropas do Duque da Terceira, em 1833, e de Sá da Bandeira, em 1846, para operar o desembarque das tropas invasoras, que implantaram o Liberalismo em Portugal.

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