Mapa da divisão administrativa e militar do Algarve-Alentejo |
O Algarve tinha, nos começos do
século XIX, nove governadores de praças com 49 fortes e baterias devidamente equipadas
com diversas peças de artilharia, assim como a tropa de que se compunham as respectivas
guarnições militares. Tudo isto somava algumas centenas de homens. Porém, no
tempo do general Beresford a maior parte das defesas costeiras do Algarve foram
desmanteladas. Com o decorrer do tempo as circunstâncias de degradação dos
equipamentos foi-se agravando, a tal ponto que – segundo o parecer de uma
comissão de engenheiros, liderada por José Sande de Vasconcelos, que aqui que
aqui veio inspeccioná-las – seria necessário investir 27 contos de réis para
voltar a pô-las operacionais. Apesar disso, quando ocorreu a chamada “invasão
do Algarve” pelas tropas do Duque da Terceira, as guarnições miguelistas da
lista costeira, ainda conseguiram aproveitar alguma artilharia que daqui
levaram na debandada para o Alentejo, onde reorganizaram a resistência. Assim
que o exército libertador partiu para tomar Lisboa em 24 de Julho de 1833, a tropa
do estropiado exército absolutista, agora sob o comando do Remexido, serviu-se
dessa artilharia para atacar as cidades de Lagos e Faro, assim como a intrépida
vila de Olhão, principais baluartes da causa pedrista no Algarve.
Desembarque
de D. Pedro à frente do exército libertador, na praia da Arnosa de Pampelido |
A guarnição militar do Algarve
era constituída pelos Regimentos de Infantaria nº 2 e 14, sediados em Lagos e
Tavira, respectivamente, e ainda pelo Regimento de Artilharia nº 2, em Faro,
com o respectivo Trem, onde se repararam e fundiram várias peças de médio
calibre, que foram muito úteis na defesa da cidade contra as investidas das
guerrilhas miguelistas, nos anos que se sucederam à Convenção de Évora Monte. Para
além destas guarnições, existia também o secular Regimento de Cavalaria de
Caçadores 4, sedeado em Castro Marim, e uma Companhia de Veteranos, dispersa
pelas principais praças do reino do Algarve, cujo comando estava sedeado em Lagos.
Em boa verdade, esta Companhia não passava de uma decrépita e mal equipa
milícia territorial, composta por velhos soldados incapazes de assegurar a
defesa das vilas e cidades algarvias. Um pouco melhor equipados estavam os
Regimentos de Milícias de Lagos e de Tavira, embora também padecessem da falta
de homens, de fardamento, de fuzis e cartuchame. O efectivo das Ordenanças no
Algarve compunha-se de 14 capitanias-mores, com várias companhias de infantaria
e alguma cavalaria. Mas, na realidade, serviam mais para a decoração militar em
actos solenes e festivos, do que propriamente para a defesa efectiva do
território.
Caricatura
da luta pelo trono português entre D. Pedro e D. Miguel, num desenho de Honoré Daumier, 1833 |
A partir de então, o Algarve
passou a dispor, como guarnição permanente, de dois corpos de Infantaria e
apenas um de Artilharia; uma Companhia de Veteranos dispersa pela província,
comandada por Lagos, onde, aliás, também se encontrava o quartel de um dos
corpos militares, além do de Tavira, e do de Artilharia em Faro, onde se
instalou um novo Trem.
Remexido, o guerrilheiro do Algarve |
O número de praças militares
continuou a ser o mesmo. Os fortes e baterias da costa também não sofreram
alteração, ainda que permanecessem abandonados, desequipados e arruinados.
Para a execução da justiça
militar havia um auditor da divisão, com 40 mil réis de ordenado e uma forragem
para os animais.
Em resumo, era assim que se compunha
e organizava a Divisão Militar do Algarve, que desde 1762, quando o Conde de
Lippe aqui chegou, não teve uma intervenção na recuperação das suas defesas
marítimas, não melhorou o seu equipamento bélico, nem aumentou o efectivo
militar. O Algarve, desde o século XVII, quando se preparou para a “guerra da
independência”, nada tem feito para defender a sua vasta linha costeira, que
permanece, ainda hoje, indefesa para suster um ataque marítimo. Não admira, por
isso, que o Algarve tivesse sido escolhido pelas tropas do Duque da Terceira,
em 1833, e de Sá da Bandeira, em 1846, para operar o desembarque das tropas
invasoras, que implantaram o Liberalismo em Portugal.
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