A poesia é a ciência mais
antiga do Homem. Dito assim, de chofre, parece uma blasfémia. Afirmo-o, porém,
na plena consciência de não estar a incorrer na estulta insensatez de confundir
a objectividade da ciência com o idealismo egocêntrico e fantasista da verve
poética. A ciência é fria e impessoal, enquanto a poesia é calorosamente
intimista. Parece que estamos a falar dos antípodas da razão, ou dos oponentes
da existência humana. Mas, na verdade, a poesia é a expressão mais artística e
mais sublime da vida, tendo servido desde tempos imemoriais para aplacar os
deuses, homenagear os heróis, seduzir os vivos e invocar os mortos. Tudo na
vida se pode envolver no halo sagrado da poesia.
Os primeiros conhecimentos
foram transmitidos de geração em geração pela arte, pela música e pelo legendário
oral, através do qual se fortaleciam os laços de pertença e de integração
social. As tribos e os clãs mais ancestrais, identificavam-se não só pela sua
peculiar iconografia, como sobretudo pela reverência dos seus heróis, cujo
preito se fazia através de cânticos, loas, odes e outras expressões poéticas.
Significa isto, que nos primórdios da civilização o saber/ciência era fruto do
tempo e da experiência, ou seja, do empirismo vivencial, cuja transmissão se
operava através de sentenciosos adágios ou provérbios, pejados de sonoridades
rimáticas que facilitavam a sua memorização.
Digamos que a poesia nas
sociedades menos evoluídas se tornou numa espécie de correia de transmissão da
ciência, exemplo que ainda há pouco anos se verificava nas aldeias mais
recônditas do nordeste beirão e transmontano. Se repararmos na nossa literatura
oral, constatamos que o misticismo e a crendice popular estão impregnadas de
poesia, evidenciada nas orações e benzeduras, nas adivinhas, nos maus-olhados,
nas pragas e maldições, nos aforismos e adágios, nos autos e entremezes
teatrais, nos relatos sobre o passado histórico e lendário dos antepassados...
Enfim, nesse imenso património bio-socio-antropológico, a poesia funciona como
uma espécie de oráculo da cultura popular.
No seio da cultura
portuguesa, atribui-se ao Infante D. Pedro, a quem chamaram o príncipe das
sete-partidas, filho de D. João I e membro da “Ínclita Geração”, a honra de ter
introduzido na língua portuguesa o vocábulo POESIA, cujo género literário dizia
ele ser “Coisa mais do sabor do que do saber”. Esta afirmação,
aparentemente, vem contradizer a relação primordial entre a ciência e poesia.
Mas, na verdade, o que acontece é que o tempo mudou, isto é, alteraram-se as
mentalidades, transformando-se a organização social e económica do mundo.
Modificaram-se as noções de ciência e de cultura, o conhecimento procurou
independentizar-se da filosofia e assistiu-se ao nascimento das diversas
ciências. E a Poesia, que durante muito tempo havia servido de muleta à ciência,
tornou-se a partir de então numa Arte intelectual – é certo que numa expressão
elevada do pensamento e num pitonísico oráculo do idealismo filosófico, mas
definitivamente numa arte ou simplesmente numa forma de criação artística.
Estava-se em plena
Renascença, fervilhavam novas ideias nos cenáculos do Humanismo, e a sombra do
velho mundo passava a medir-se com a vara do estro humano. Era o tempo do homo
mensura. A poesia tomava novos rumos em diferentes cambiantes. Tornara-se mais
imaginativa e artística, formulando novos modelos para a arquitectura das
palavras. O sentido desalinhou-se do conteúdo, isto é o significado e o
significante estabeleceram um imbricado relacionamento, formando enigmáticos
dédalos de locuções, aos quais a riqueza fonética das palavras emprestou uma inovadora
sonoridades musical. A partir de então a poesia tornou-se na arte da palavra
por excelência. Ora, acontece que as línguas latinas possuíam, na radícula do
classicismo, a especial singularidade de darem à entoação das palavras uma
musicalidade natural. Talvez por isso é que Rodrigues Lobo no seu livro a Corte
na Aldeia, dissesse que "a língua portuguesa é branda para
deleitar, grave para engrandecer e doce para pronunciar" .
Por sua vez, Sá de Miranda
(o célebre introdutor do soneto em Portugal) desejando ilustrar o
espiritualismo e o desprezo dos poetas pelo materialismo, dizia que "os
poetas tudo punham em flores e dos frutos nada havia que esperar".
Esta asserção marcaria para sempre a concepção geral do valor da poesia, e, por
consequência, a desvalorização social do poeta. Vulgarizou-se a errónea imagem
do Poeta sonhador, lunático, excêntrico, extravagante e caprichoso, resultante do
seu aparente desapego à realidade, do seu psiquismo frenético e fantasista, do
seu epicurismo sensualista e, sobretudo, do seu hedonismo existencial.
Certamente por causa dessa falsa imagem do Poeta, é que, mais tarde, quando o materialismo burguês se apoderou do nosso país – um pouco à semelhança do que estamos a viver hoje – Camilo Castelo Branco, que chegou a ter pretensões poéticas, afirmava enfurecido: «Gela-se-me o sangue, quando a ignorância petulante faz um trejeito de menosprezo ao talento e diz: poeta!».
Certamente por causa dessa falsa imagem do Poeta, é que, mais tarde, quando o materialismo burguês se apoderou do nosso país – um pouco à semelhança do que estamos a viver hoje – Camilo Castelo Branco, que chegou a ter pretensões poéticas, afirmava enfurecido: «Gela-se-me o sangue, quando a ignorância petulante faz um trejeito de menosprezo ao talento e diz: poeta!».
Ora a Poesia é, em primeiro
lugar, um acto de comunicação com o Eu e com o Outro. E actualmente a Poesia
também é um lugar de resistência à globalização, cada vez mais redutora e
homogeneizante, fulcralizada num modelo imperialista de cultura inspiradamente
anglo-americano, no qual só o mediático é universal.
No fundo, a Poesia é
simplesmente a arte de fazer versos, transmitindo neles o sentimento, o temperamento
e o carácter do poeta, numa simbiose da intimidade com a estética, sem nunca
perder de vista os excelsos valores da Ética. Mas, por outro lado, a Poesia é a
expressão natural da paixão como suprema manifestação do amor, num entrelaçar
de imagens e de metáforas que transluzem o sofrimento e a dor dos amantes. Porém,
como dizia Fernando Pessoa, "o poeta é um fingidor, finge tão
completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente".
Por isso é que a poesia obedece a uma fórmula de composição estética e musical.
Classicamente a Poesia
obedece a uma fórmula de composição estética e musical. O seu objecto é a
beleza de expressão associada à ideia, usando a palavra com parcimónia, mas
procurando elevar os conceitos até ao nível da plurivalência entre o
significado e o significante. A poesia deve, pois, expressar uma certa harmonia
entre a inspiração lírica e a mensagem literária, dando-lhe um carácter
comovente, sem extinguir certezas absolutas.
A Poesia é a inspiração
natural e transcendente, mas também é um labor sequencial com a palavra num
aprimoramento de ideias e de pensamentos, concebidos nos céus etéreos da
lógica, que ultrapassam a materialidade e a impermanência da vida. Por outro
lado a poesia é a própria Vida, pejada de memórias recorrentes e de magnetismos
telúricos, impregnando-se, por vezes, de obscuros e insondáveis mistérios.
Acima de tudo, a Poesia é
dialógica. Com a palavra inventamos mundos usando conceitos profundos e belas
metáforas, mas é com palavras simples e familiares que se faz a melhor poesia. Talvez
por isso é que o poeta José Craveirinha concebia a criação lírica como uma
"fraternidade das palavras", afirmando que "as palavras só
precisam de quem as toque ao mesmo ritmo para serem todas irmãs".
Mas a memória das palavras
não depende da memória, mas antes das palavras. Existe um Sul mítico no
esplendor do Sol, nas areias movediças da memória e na espuma das palavras,
como a presença viva dos nossos ascendentes que pairam sobre a nossa memória.
Os lugares de recorrência acontecem frequentemente na poesia, quando lembramos
as raízes e o tempo que passa, como memória da água.
Existe um tempo de maturação
poética, durante o qual o poema precisa de adormecer na sua forma crisálida até
despertar como eflúvio de vida e de beleza. Em jeito de crítica, construtiva,
diria que existem dois tipos de poetas: os de inspiração vulcânica, a que chamo
repentistas, e os versificadores aplicados, a que chamo poetas da inteligência.
Os primeiros são os apóstolos do povo, cantam aquilo que vêem com a
simplicidade do seu limitado horizonte intelectual. Os segundos versejam com eloquência,
constroem imagens e metáforas de fino recorte estilístico, evidenciando uma
forte presença intelectual, entretecida na sensibilidade estética e na elevação
do pensamento filosófico. Há certos poetas que escrevem de chofre, na primeira
penada, sem tão pouco verificarem se nos
seus poemas existe sentido, Beleza ou Graça.
O poeta é, em suma, um mago cinzelador da palavra
transformada em verso, um alquimista da Beleza. Por isso é que Fernando Pessoa definiu o
poeta nesta simples e genial síntese: «Deve haver no mais pequeno poema,
qualquer coisa por onde se note que existiu Homero».
Pegando na afirmação de Fernando
Pessoa, sente-se que pelo Corpo e Alma
deste livro, passou o espírito homérico da palavra peregrina, do amor platónico
e da paixão física de Ulisses. Na profundidade estética da eloquência e na
arrumação estésica do seu próprio sentido lírico, percebe-se que Saúl Neves de
Jesus foi tocado pelo halo sagrado das musas, deixando-se enlevar no inebriante
cântico das sereias.
Na sequência do meu
raciocínio inicial, direi que esta obra não é de ciência, porque a tão elevado
patamar já não se ergue a poesia. Porém, ela nasceu do amor, da paixão, do
sentimentalismo e do mais puro espiritualismo de um cientista, que considero,
sem favor, como um incansável, denodado e proficiente investigador, cuja obra
académica tem depositado sobre o venerável e frio altar da ciência, com o
aplauso inter pares e os mais rasgados elogios da crítica especializada. Este
livro vem corroborar a velha frase de António Ferreira, o celebrizado autor da Castro, quando afirmou que “as musas
nunca fizeram mal aos doutores”. E de facto assim se comprova pela leitura dos
poemas que compõem o livro, De Corpo e
Alma, embora também nele se perceba que não foram as musas que o inspiraram,
mas certamente uma única e maravilhosa musa, que ajudou o poeta a descobrir a
essência do amor.
Toda a obra está impregnada
pela ascese dos sentidos, transmitida, de forma muito velada, através do calor
sensorial das palavras, suspeitosamente evidenciada na apreensão sensual dos
corpos, na percepção táctil das carícias dos amantes ou nos odores da carne
libertados pelo frenesim do amor. No poema «Os cinco sentidos da paixão» tudo
fica mais claramente definido. O amor vive-se e sente-se na plenitude dos
sentidos. É dessa osmose sensitiva que o amor desperta em paixão. “O verdadeiro
amor não pode ser definido, apenas sentido...”
Os poemas de Saúl Neves de
Jesus são verdadeiras odes ao amor, cânticos oníricos carregados de paixão, num
inebriante sensacionismo, que a ninguém pode deixar indiferente. O amor
assume-se nos seus versos como um momento de magia, e o êxtase do amor pressente-se
na simplicidade das palavras: “Um momento só nosso.../um momento eterno de
magia”, “Vale a pena viver.../pela magia.../pelo teu olhar” Sente-se que o
poeta vive “Um sonho acordado, / um espaço sem tempo, / num envolvimento
infinito...” Por vezes sentimo-nos a seu lado, desejosos de “Acreditar no amor
para todo o sempre / num destino traçado por Deus / como uma linha sem curvas...”.
Não restam dúvidas de que a
leitura destes apaixonados poemas atingem o mais insensível leitor no profundo
âmago dos sentidos, deixando-lhe na alma a contagiante nostalgia do amor,
ateando-lhe a lembrança de amores inconseguidos ou de paixões inconsequentes. A
magia poética ilumina a memória num contagiante fascínio pela dialéctica
psicossomática do Eu em simbiose com o Nós, perpassando nessa relação intimista
um certo dualismo ascético, por vezes místico, muito peculiar nos analistas da
mente que vêem no amor o exclusivo refrigério da vida. “Quero continuar a
sonhar / não me acordes / e sonha também...”
O livro aí está, pronto a
ser partilhado, sobretudo por aqueles que ainda se sentem vivos para sonhar com
o amor e experimentarem o calor de uma verdadeira paixão. O mistério da vida
consubstancia-se precisamente na descoberta da essência do amor.
Olá, Dr. Mesquita!
ResponderEliminarCom tal riqueza de prefácio, creia que na primeira oportunidade irei procurar o livro do Dr. Saúl de Jesus.
Um abraço
Esperança
Boa tarde,
ResponderEliminarNo texto acima, de sua douta autoria, percebi no final tratar-se dum prefácio alargado, digamos assim, duma obra poética, agora lançada no mercado pelo poeta Saul de Jesus Dias. No seu texto, as primeiras palavras, são excitantes, por inovadoras. Nunca tinha pensado nisso, nem tal me ocorrera, essa sua designação de poesia ciência. Fiquei a pensar, sim, nela e dela não tive uma aceitação pacífica. Por enquanto, entendo-me e entendo a poesia situada num dos departamentos da vida, ARTE, e ao lado, ou mais distante ficará o departamento CIÊNCIA, São departamentos que se cumprimentam com um sorriso fechado. Cada departamento aqui citado, julgasse superior ao outro. Não há neste comportamento inveja, nem, briga, tão pouco emulação, Cada um, em particular, mas cada um de per si, sabe o que vale, sabe o que tem a fazer e o que quer. Poesia é tudo o que o senhor disse mas navega na liberdade, e muitas vezes está no que as palavras não dizem. A poesia é criadora e educa. A Ciência, por sua vez, assenta a sua acção na área do rigor.:; E faz testes para conferir os pressupostos. Quanto á poesia de Saul Dias que conheço alguma coisa, creio que ainda não se afirmou e desconheço qual a azinhaga que percorre. Picasso disse: ao princípio, copiei os outros; depois tracei o meu próprio caminho. Eugénio de Andrade, Sophia e outros, assumiram-se como poetas da natureza por não gostarem do homem. E cantaram as fontes, a água que cai… por aí. Um poeta é um educador e ama os outros. Ele próprio para si próprio nada vale. O poeta tem de aparecer. Eu nunca vi fora dos livros um poema de Saul de Jesus. E o poeta tem de dar vida á sua vida. É imperioso intervir … nunca vi nada em nada. Posso estar errado… mas mantenho o que aqui digo.
Deixo-lhe o meu abraço de amizade. Sou um leitor fiel perante os seus trabalhos. Até sempre,,,
JBS
Prezado Amigo JBS
ResponderEliminarÉ claro que a poesia não é nenhuma ciência. O que escrevi neste prefácio é uma provocação, que merece ser devidamente ponderada. A poesia é a mais sublime e universal forma de expressão artística do espírito humano. E foi-o desde sempre, isto é, desde que existe Civilização e Cultura. Acho que o homem necessita das duas, uma como Saber e outra como Arte.
A contra-argumentação do meu Amigo está muito bem escrita, e denota a presença de um homem inteligente e culto, cordial e bem intencionado. Presto-lhe a minha homenagem, e agradeço-lhe o contributo que veio prestar a este espaço de comunicação.
Os meus agradecimentos e os votos de poder continuar a contar com os seus esclarecidos comentários.
Um abraço do Vilhena Mesquita
EU ESCRITOR,
ResponderEliminarMeu caro amigo,
A resposta que o senhor deu ao meu comentário, dá-me a oportunidade de responder-lhe nestes moldes, que espero aceite. Para já, o meu muito OBRIGADO, pelas palavras que o senhor escreveu e que eu não lhe pedi. Começaria por dizer-lhe, que a minha postura na vida, tem um pouco de provocador responsável. Provoco, no bom sentido, óbvio. Para ouvir os outros e das respostas tidas saber o que valho na área onde me instalei e procuro singrar; a literatura. Eu nunca falo de mim; oiço o que os outros dizem de mim. E é assim, deste modo que desenhei a minha vida e assim a percorro. Assumi-me como escritor, onde procuro ser cada dia, melhor pessoa, naquela perspectiva de Vergílio Ferreira, que disse: "escritor, é aquele que torna os seus leitores melhores pessoas”. O escritor poderá ser mais coisas, mas estas palavras do mestre, chegam-me. Eu sou um leitor da vida, o livro mais difícil de ler. Procuro estar atento a tudo... e a todos. Aqui há dias, passando perto de respeitáveis senhoras, que estavam de conversa, e trabalham no local onde resido, ouvi esta expressão maravilhosa: "A vida é água lavada ...". Fiquei maravilhado e isso, foi motivo para escrever um poema. E é por este amor à literatura e por outras, como a sua brilhante resposta, que me assumi como escritor. Um tipo que escreve e dá o corpo às balas, tem de se assumir como tal e estar na linha da frente. Este meu assumir-me como escritor, não é, não foi, uma atitude leviana; foi antes disso uma tomada de posição consciente e devidamente testada. Uma vez aconteceu, que uma senhora me cumprimentou deste modo: Olá, poeta... E eu respondi: mas eu não sou poeta... E a senhora: então é o quê?!... O que aconteceu é que eu quis ser humilde mas não o soube ser. Mas é preciso ser. E é muito importante saber estar no palco onde surgem alguns aplausos. Aprender a ser humilde perante tal situação é indispensável. Exige treino... mental. Ser escritor e assumi-lo é uma grande carga de trabalhos, como disse o pai do nosso primeiro ministro, quando tomou posse. O escritor escreve todos os dias, disse o Colombiano Tomás Sepulveda. Tem de amar a literatura.(continua).
(continuação)
ResponderEliminarComo Fernando Pessoa que disse: amei e julguei que me amariam.... mas não me amaram. Não me amaram porque não tinha de ser ... Pessoa amava a literatura; eis o escritor. Portanto é preciso assumir sê-lo e já o fiz em público e aproveito a ocasião para, nessa qualidade, me apresentar ao serviço e apresentar serviço a uma pessoa do seu quilate intelectual; professor doutor, investigador, historiador, tudo isso com provas dadas. Mas esta atitude dá muito trabalho porque há que procurar ser melhor todos os dias. A vida é um eterno recomeço. É importante não esquecer o que disse o escritor Armando Baptista Bastos: de nada vale ser o primeiro porque nunca seremos o melhor. Assumi-me como escritor, depois de sentir o coração dos outros, evidentemente. A propósito da conversa das senhoras que cito acima, ocorreu-me Camilo Castelo Branco, que pedia à esposa, Ana Plácido, para ir aos fins de tarde ouvir os trabalhadores de enxada, que regressavam das lides do campo e conversar com eles, levando-lhe as sábias conversas. Camilo escreveu páginas gloriosas, entre as quais, o Cego de Landin, que o procurou por uma questão com origem numa demanda de azenhas. CCB, possuía muitos conhecimentos pessoais e era autoridade intelectual reconhecida na sua zona de acção e "aux environs, aussi", sendo, por isso, muito solicitado pelos mais variados motivos e causas. O cego, que foi solicitar os serviços do escritor, subiu até ao segundo andar de uma penada e, uma vez aí, deu esta gritada; PARA A DIREITA OU PARA A ESQUERDA.E à saída, montou o cavalo segurando uma rédea especial, deu uma ripada de chicote nas traseiras do animal e em breve desapareceria de vista, após a primeira curva do caminho.
Meu caro professor, amigo e homem de letras, muito obrigado pelas palavras que escreveu na resposta ao meu comentário. O escritor João Manuel de Brito de Sousa agradece. E peço-lhe que seja o senhor a apresentar o meu próximo livro de poemas, a lançar em breve….
Seu, João Brito Sousa
Prezado Amigo Brito de Sousa
ResponderEliminarConfesso que quando respondi ao seu primeiro comentário não me passou pela cabeça que JBS fosse o meu querido amigo João Manuel Brito de Sousa. Agora está explicada a eloquência da verve, que me encantou pela clareza das ideias explanadas e pelo rigor da estrutura argumentativa. Lendo agora estes dois desenvolvidos comentários, que tenho a honra de publicar no meu blogue, fiquei, como todos os que aqui os lerem, duplamente convencido que o JBS é não só poeta como escritor. E olhe que é muito difícil sê-lo em simultaneo. Mas quando se asssocia o valor intelectual à criatividade literária podemos ficar cientes de que estamos em presença de um verdadeiro escritor, de alguém que reune em si as qualidades de um homem de letras.
Mas a verdade é que hoje qualquer um é poeta e todos podem ser escritores. Basta que para isso publiquem um livro, e todos sabemos quão fácil é editar nos tempos de hoje, em que a tecnologia tudo permite, o dinheiro tudo justifica e a mediocridade a tudo e a todos se superioriza. Bem sei que a ninguém deve ser coartada a liberdade de comunicar, ou de expôr as suas ideias e valores em público. Só que um livro é muito mais do que isso, porque se transforma num veículo de perpectulização do pensamento e das ideias do seu autor. E como não temos uma crítica isenta nem independente, capacitada e respeitada, para avaliar a produção literária (e muito mesmo a produção científica) teremos que aceitar tudo e todos com a maior benignidade. E quer que lhe diga a minha opinião: acho que é assim mesmo que deve ser. Afinal de contas todos têm o direito de publicar aquilo que entendem poder trocar/comunicar com o mundo, e o mundo, isto é, o público/leitor, se encarregará de avaliar, na sua sensível sabedoria, a qualidade da obra literária. Só os melhores merecem o foco da crítica especializada. Mas olhe que desde o falecimento do Gaspar Simões ou do Prado Coelho que não temos uma crítica, isenta e credível, que sirva de diapasão à qualidade e valor da nossa poesia e da nossa literatura.
Não obstante tudo quanto ficou dito, é importante acrescentar, para que não subsistam quaisquer laivos de dúbia interpretação sobre as minhas palavras, que a poesia de Saúl Neves de Jesus possui os méritos da inspiração intelectual e da criação artística para poder ser considerada de elevada qualidade literária.
Por fim, servem também estas palavras para lhe agradecer, mais uma vez, o valiosíssimo contributo que os seus comentários têm emprestado a este blogue, contribuindo de forma qualitativa para o enriquecimento deste, quase desconhecido, espaço de divulgação da cultura algarvia.
Um abraço de gratidão e amizade do
Vilhena Mesquita
ResponderEliminarExmo Professor Doutor e estimado amigo JCVM
Boa tarde.
Li as palavras que o senhor escreveu, em resposta aos meus comentários, que fez o favor de publicar no seu espaço. Adorei pelo que disse de mim, mas, sobretudo, fiquei agradado, por ter aproveitado a ocasião para falar de outros, como Saul Dias.
Não duvido nada das palavras que o senhor escreveu e vi sinceridade nelas.
Devo dizer-lhe que comentei esta troca de correspondência entre nós, digamos assim, com o poeta MANUEL MADEIRA, um senhor da poesia que anda nisto há mais de cinquenta anos, com um passado de honra em defesa da liberdade, elemento destacado do MUD em 42, com Mário Soares, António Ramos Rosa, Joaquim Silvestre, Raul Veríssimo e outros.
Perguntei-lhe por Saul Dias, disse-me que conhecia vagamente….mas do que sabia, Saul Dias tem assinado bons trabalhos.
Eu cheguei às letras depois de aposentado de professor do ensino superior, há 6 / 7 anos, portanto… E cheguei aí, penso que com poucos livros lidos. Umas coisinhas…
Escrevia em blogues (sempre gostei de escrever) e um dia recebi duma editora um mail a convidar-me para escrever um romance. E escrevi… ficção e autobiografia… uma mistura…
Além disso, escrevi três anos seguidos em três jornais da imprensa regional do Algarve, com registos de agrado vindos do exterior. Tenho as portas as portas em qualquer deles …
Tenho publicados três livros de poesia e dois de ficção e outros em preparação …
Todos os dias escrevo. Poemas de amizade no facebook, ou crónicas. Agora estou a iniciar-me no ensaio….
Aí vai um poema…
JOÃO MANUEL DE BRITO DE SOUSA
continua
Continuação.
ResponderEliminarO TEU OLHAR VERDE
Olhos verdes
A cor de azeitona, a cor da esperança, a cor das tardes da primavera
Olhos verdes
A cor do mar azul, a cor que faz o meu coração tremer
A cor que não me sai do pensamento e que me acompanha por todo o lado que eu vá …
Olhos verdes.
A cor
Do amor
É no olhar que está o belo da vida
O olhar é a rosa florida, que encanta meu coração, quando te recordo
E acordo, dos meus sonhos de menino que já fui
E uma vez, até julguei, que serias tu que estavas no jardim
Mas àquela hora não era possível
Mas, por mais incrível
Que pareça
Sim, eras tu, eis o resultado
Do amor
A vida corre de mansinho e a brisa vem de visita, foste tu que pediste
Sei lá…. O que faz o amor … perturba… mas o meu coração resiste
Porque te ama
Os teus olhos verdes são a chama da fogueira que está dentro de mim
E me diz e volta a dizer, tanto amor para dar tanto amor para receber
Amanhã, o dia é mais belo tem mais luz e mais harmonia no conjunto
É
Do amor.
Se tu não existisses o que seria de mim
Não perceberia a vida
Seria um perdedor
Do amor
Os teus olhos verdes que eu amo, são a minha luz
Adeus meu amor, adeus, adeus.
Quero-te como um sofredor
Do amor.
João Manuel de Brito Sousa
Poesia, uma ciência. A ousadia da asserção talvez até nem seja tão ousada assim. Dizia um filósofo francês que 'a poesia, melhor que todas as demais artes, reflecte o espírito humano'. Ora, se dermos a óbvia aceitação ao dito do filósofo, então, como arte (melhor que as demais), terá certamente um voo bem mais abrangente, mais fecundo e mais criador do que o difícil (por vezes torturoso) caminho da mais vetusta ciência.
ResponderEliminarIsso, no entanto, não me parece, aqui, relevante. Sobrepõe-se um texto eloquente que desenha, em traço perfeito, a Poesia aos olhos do leitor. E, daqui, sai ela engrandecida.
O meu agradecimento pela leitura. Pela lição.
jorge
Prezado Jorge
EliminarMuitíssimo obrigado pelas suas palavras, que revelam altíssima sensibilidade poética. Desculpe não saber de quem se trata, mas aposto que você é poeta, e certamente de notáveis méritos.
Obviamente reparou que a minha afirmação sobre a poesia como ciência não passa de uma provocação. O que importa é reflectirmos sobre o seu alcance, sobretudo no passado, como meio de transmissão do saber e da memória. É claro que hoje, e aliás como sempre, a poesia é essencialmente Arte, sendo nesse sentido - da criação imaginativa - que deve ser entendida.
Gostaria que se associasse ao meu blogue, na esperança de que talvez nele possa vir a colher alguns informes de útil proveito para a sua vida cultural e intelectual.
Um abraço do Vilhena Mesquita