Em 1957, a «Casa do Algarve» promoveu um concurso de música para a criação do «Hino de Sagres», sob o alto patrocínio do empresário algarvio Libânio Correia. Com este certame pretendia-se apoiar a criação artística e incentivar o regionalismo. Além disso, vinha na esteira das pré-comemorações do V Centenário da morte do Infante D.Henrique, que se realizariam em 1960, tendo no Algarve, sobretudo no Cabo de Sagres, um dos principais palcos para a concretização daquela histórica efeméride.Nessa altura, este conceito – Regionalismo - envolvia uma forte carga nacionalista, que se traduzia no exacerbamento da paixão patriótica, através da fusão no espaço nacional das regiões do interior. O que se pretendia, neste caso, era identificar e valorizar as características etnográficas das nossas aldeias, vilas e concelhos, cujas tradições e património histórico, ressumavam o que melhor distinguia e identificava a, então designada, portugalidade.
Repare-se que o conceito de Regionalismo não se decalca na Regionalização, por ter este um sentido mais abrangente, que se prende com a afinidade geográfica e identidade cultural de determinados espaços, inseridos da unidade nacional. Mas a principal diferença entre os dois conceitos reside na proposta de administração autónoma das regiões, o que seria impensável durante o consulado salazarista.
Repare-se que o conceito de Regionalismo não se decalca na Regionalização, por ter este um sentido mais abrangente, que se prende com a afinidade geográfica e identidade cultural de determinados espaços, inseridos da unidade nacional. Mas a principal diferença entre os dois conceitos reside na proposta de administração autónoma das regiões, o que seria impensável durante o consulado salazarista.
Voltando à questão inicial. A Casa do Algarve de entre os vários trabalhos a concurso, escolheu como vencedor do «Hino de Sagres», uma belíssima peça musical, de inspiração patriótica e de glorificação dos valores históricos que enformavam o nacionalismo, tendo como figura central o Infante D. Henrique, alma mater da epopeia dos Descobrimentos.
Este interessantíssimo «Hino de Sagres», hoje esquecido, foi escrito por Mateus Moreno (1892-1970), uma grande figura da cultura algarvia, um notabilíssimo escritor, fundador da revista «Alma Nova», e militar de prestígio que combateu na I Guerra Mundial. A vida do major Mateus Moreno dava um romance, pela forma multifacetada como desenvolveu a sua acção cívica, no país e nas colónias, com algum aventureirismo à mistura, como aliás é peculiar nos portugueses, que só precisam de um cantinho para nascer, mas têm o mundo inteiro para viver.
Mateus Moreno |
A composição musical do «Hino de Sagres» é da autoria da lisboeta Elvira de Freitas (1928 – 2015), notabilíssima pianista e diretora de orquestra, que para ganhar a vida optou pela docência no liceu Camões, onde desenvolveu uma profícua actividade melómana, de que muitos dos seus antigos alunos ainda hoje se recordam com saudade. É curioso que este prémio da «Casa do Algarve», patrocinado por Libânio Correia – outro algarvio esquecido –, possibilitou à pianista Elvira de Freitas entrar na carreia docente em 1957, e tornar-se numa das maiores figuras do Conservatório Nacional e, mais tarde, do Instituto Gregoriano de Lisboa.
Elvira de Freitas |
Não vou aqui tecer qualquer apreciação crítica em relação aos versos de Mateus Moreno, e muito menos à música de Elvira de Freitas. O que me apetece enaltecer é o facto de naquela época se terem reunido, para compor o «Hino de Sagres», duas grandes figuras da cultura nacional, lamentando em contramão que essa peça não seja hoje conhecida, e quiçá reaproveitada para fins culturais, nomeadamente turísticos ou etnográficos.Aqui ficam as imagens da letra e da música do «Hino de Sagres», que talvez, bem aproveitado do ponto de vista turístico-cultural, ainda possa servir os interesses do município de Vila do Bispo, onde a figura do Infante D. Henrique se vislumbra e se sente ainda a rondar aquela agreste penedia do Promontório de Sagres.